sábado, 9 de abril de 2016

sexta-feira, 8 de abril de 2016

As Traduções dos Sonetos de Shakespeare

Soneto I

From fairest creatures we desire increase
That thereby beauty’s rose might never die,
But as the riper should by time decease
His tender heir might bear his memory:
But thou, contracted to thine own bright eyes,
Feed’st thy light’s flame with self-substancial fuel,
Making a famine where abundance lies,
Thyself thy foe, to thy sweet self too cruel.
Thou that art now the world’s fresh ornament
And only herald to the gaudy spring,
Within thine own bud buriest thy content
And, tender churl, mak’st waste in niggarding.
     Pity the wold, or else this glutton be:
     To eat the world’s due, by the grave and thee.

Tradução: Jorge Wanderley

Dos raros, desejamos descendência,
Que assim não finde a rosa da beleza,
E morto o mais maduro, sua essência
Fique no herdeiro, por inteiro acesa.
Mas tu, que só ao teu olhar te alias,
Em flama própria ao fogo te consomes
Criando a fome onde fartura havia,
Rival perverso de teu próprio nome.
Tu que és do mundo o mais fino ornamento
E a primavera vens anunciar,
Enterras em botão teus suprimentos:
- Doce avareza, estróina em se poupar.
Doa-te ao mundo ou come com fartura
O que lhe deves, tu e a sepultura

Tradução: Ivo Barroso

Dos seres ímpares ansiamos prole
Para que a flor do belo não extinga,
E se a rosa madura o Tempo colhe,
Fresco botão sua memória vinga.
Mas tu, que só com os olhos teus contrais,
Nutres o ardor com as próprias energias
Causando fome onde a abundância jaz,
Cruel rival, que o próprio ser crucias.
Tu, que do mundo és hoje o galardão,
Arauto da festiva Natureza,
Matas o teu prazer inda em botão
E, sovina, esperdiças na avareza.
     Piedade, senão ides, tu e o fundo
     Do chão, comer o que é devido ao mundo.

Tradução do Blog:

Ao mais raro desejamos que cresça
Que a rosa da beleza nunca morra
Mas o fim do maduro é que apodresça
Só o doce herdeiro evita que isto ocorra
Mas tu, que só aos teus olhares atenta
Alimenta a ti com teu próprio ser
Passando fome onde abundância assenta
A ti mesmo hostil sendo sem saber.
Tu que já do mundo é fresco ornamento
Da primavera único mensageiro
Enterra em botão teu contentamento
Desperdiça em acumular dinheiro.
     Apiede-se do mundo, ou se é sem fé:
     Come o que do mundo por direito é.

Soneto XVII

Who will believe my verse in time to come
If it were filled with your most high deserts?
Though yet heaven knows it is but as a tomb
Which hides your life and shows not half your parts.
If I could write the beauty of your eyes
And in fresh numbers number all your graces,
The age to come would say, `This poet lies:
Such heavenly touches ne’er touched earthly faces.’
So should my papers, yellowed with their age,
Be scorned like old men of less truth than tongue,
And your true rights be termed a poet’s rage
And stretched metre of na antigue song:
     But were some child of yours alive that time,
     You should live twice, in it and in my rhyme.

Tradução: Jorge Wanderley

Quem crerá nos meus versos algum dia,
Se tanto louvam tuas qualidades?
Mas sabe o céu que são a tumba fria
A te esconder a vida e só a metade
Dizem de ti. Se teus olhos, somente,
Ou tuas graças todas eu cantasse,
O futuro diria: “O poeta mente,
Que o céu não toca assim humana face.”
E então os meus papéis já desbotados
Seriam - como velhos falastrões -
Encarnecidos e os teus dons deixados
No esquecimento de banais refrões:
     Mas terás, se um teu filho viver tanto,
     Duplo vida: no filho e no meu canto.

Tradução: Ivo Barroso

Um dia crer nos versos meus quem há-de
Se eu neles derramar teus dons mais puros?
No entanto sabe o céu que eles são muros
Que a tua vida ocultam por metade.
Dissera o que de teu olhar emana,
Teus dons em nova métrica medira,
Que acharia o porvir então: “Mentira!
Tais tratos não retratam face humana.”
Que mofem pois deste papel fanado
Qual de velhos loquazes, e a teu ente
Chamem de pura exaltação da mente
E a meu verso exageros do passado.
     Mas se chegar a tua estirpe a tanto,
     Em dobro hás-de viver: nela e em meu canto.

Tradução do blog:

Quem crerá em meu verso na era futura
Se ele é cheio de sua mais alta verdade
Mas ainda assim é amostra impura
Que de sua vida mostra só a metade.
Se eu pudesse pintar seu olhar brilhante
E em números suas graças enumerasce
A era futura diria: o poeta mente
Tais tons nunca tingiriam humana face
Então, meus papéis amarelecidos
Seriam tratados como de um caduco
Tributos vão de furores perdidos
Exageros em versos de um maluco
     Mas se ainda algum dos seus vivesse então
     Viveria duas vezes, nele e em canção
  
Bibliografia

SHAKESPEARE, William. “30 Notetos”. Tradução: Ivo Barroso. 1991. Editora Nova Fronteira.

                             _. “Sonetos”. Tradução: Jorge Wanderley. 2a. Edição. 1991. Civilização Brasileira. 

O sol também se levanta


"Uma geração vai, e outra geração vem; porém a terra para sempre permanece. O sol também se levanta e se põe, e volta ao seu lugar donde nasceu. O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo seus circuitos".
ECLESIASTES - I, 4, 5, 6.

"A jandaia permanecia cantando no coqueiro, ao pé do qual Iracema fora enterrada. Mas a ave não repetia mais o nome de Iracema. "Tudo passa sobre a terra."
Iracema, José de Alencar.

TBD.

História Tirada de Algumas Poesias

A primeira vez que a vi ... eu não sabia seu nome. Estava sentada sozinha no banco do ponto de ônibus. Chorava com um livro nas mãos. O que me chamou a atenção é que chorava apenas por um dos olhos... na verdade por um dos olhos chorava copiosamente ... pelo outro apenas uma lágrima. Fechou o livro. Acabara de ler a última página. Parecia tão triste. Queria me aproximar mas sabia que se o fizesse ela limparia as lágrimas e a beleza do momento se perderia. Fiquei curioso sobre quem seria aquela menina e porque estaria tão triste. Quando lhe procurei de novo com o olhar ela tinha sumido. Um ônibus chegara e a levara. Mais tarde eu acharia o mesmo livro em uma biblioteca e leria sua última página. Falava algo sobre uma separação de amigos, rosto a serem lembrados e um momento para não ser esquecido. Estranhamente eu não me lembrava de seu rosto mas apenas de seus olhos e aquela gota de água solitária...

Ainda hoje me lembro daquele momento. Já ouvi algo sobre o perigo de pessoas que choram por um olho só. Alguma superstição. Devia ser mais supersticioso. Lembro-me de que por algum tempo só pensei naquela menina, como encontrá-la de novo. Por duas semanas sentei-me naquele ponto de ônibus e fiquei esperando. Ela nunca apareceu. Ainda por algum tempo passei por aquela praça no caminho de volta para casa. Pouco a pouco desisti e deixei de passar por ali.

Estava voltando para casa. Fui pego por uma chuva forte. Corri para me abrigar sob o toldo de uma padaria fechada. Já havia alguém lá. Uma menina. O rosto molhado da chuva me fez reconhecê-la. Desta vez prestei atenção ao seu rosto. Não eram tão bonitos como seus olhos. Pensei que fosse mais velha. Saiu correndo de modo esquisito.

Nunca acreditei em amor à primeira vista. Mas acredito em amor à terceira vista. Pelo menos assim aconteceu comigo. Na terceira vez nos conhecemos. Por toda a noite dançamos. Depois da festa nos beijamos. Ao som das águas de um riacho que corria.

Fosse esta estória uma poesia e ela aqui terminaria. Mas na vida real as estórias continuam. Muitas outras vezes nos encontramos. Até que em uma outra festa a vi por uma última vez. Seus olhos surpresos me disseram adeus. Só então eu percebia que era de Castro a poesia.